Há três semanas os Vereadores não aprovam um único projeto na Câmara. A última proposição votada foi a aprovação da denúncia contra o vereador Sérgio Ângelo, em 29 de setembro, preso na Operação Pegadas.
Nas últimas quatro sessões, nada vai adiante. Os Nobre Edis chegam, a mesa diretora faz a leitura da Bíblia, lê as proposições e correspondências que deram entrada na Casa entre uma reunião e outra, a tribuna é usada para discursos políticos. E era isso!
A de hoje (13) durou 28 minutos. Tão curta quanto improdutiva, pode ser narrada em um parágrafo:
Prevista para iniciar às 16h, foi aberta com 18 minutos de atraso. Foram em torno de 50 segundos gastos na leitura da Bíblia e cerca de 8 minutos lendo as correspondências. Na sequência, o Presidente Eraldo Roggia (PTB) anunciou a presença de três pastores no Plenário Tapir Rocha. Um dos religiosos foi à tribuna rezar pelos vereadores e, com o nariz para fora da máscara, pediu durante seis minutos para Deus clarear a mente dos políticos que lá estavam. A mesa anunciou a entrada de um projeto de lei enviado pelo Executivo, o vereador Guto Lopes (PDT) pediu vista a um veto do Prefeito. Na sequência, quando iriam entrar na pauta do dia, Guto Lopes pediu dez minutos de suspensão pela bancada do partido. Na volta, não havia quórum, e a sessão foi encerrada.
Tem sido assim o mês de outubro inteiro. Todos – ou quase – estão presentes, mas saem do plenário enquanto a câmera está desligada, evitando, assim, a sequência da reunião. O motivo oficial é a série de vetos do prefeito Nadim Harfouche a projetos de lei. Tais objeções trancam a pauta de votação. A questão é que os vereadores não querem destrancar a fila. Nos bastidores, com gravadores desligados, alguns dos parlamentares confirmam a razão verdadeira: não deixar o projeto de lei do vereador Evandro Rodrigues (DEM) para destituir (mais uma vez) a mesa diretora do Legislativo ser votado.
Quem apoia a manobra culpa os adversários pelo congelamento da Câmara. Os opositores colocam na conta de Evandro o fato de a cidade não avançar em temas como Saúde, Educação e Cultura.
A coluna tentou contato com oito dos 21 vereadores de Viamão. Quatro deram suas versões para a polêmica. Evandro aceitou comentar publicamente as insinuações dos colegas:
– A cidade está parada. Não há serviços e tampouco melhora nos quadros de enfrentamento ao COVID-19. Não é culpa minha, não. O Projeto (destituição da mesa) está lá, pronto pra ser votado – fechou o vereador.
Ao fim, digo que pouco importa de quem é a culpa. Fato é que as coisas habitualmente não andam em período eleitoral, pois a política marrom sempre encontra um subterfúgio, seja veto, ou projeto de lei. A lamentar, apenas, que em períodos como esse, em que só as urnas importam, o salário dos Nobres Edis continuem sendo pagos integralmente (e com reajuste mesmo em ano de pandemia), não importando se ficam em sessão duas horas ou um minuto por semana.
E não tem reza ou trabalho, padre, pastor, santo ou orixá que mude.