O mundo de Alice | Relacionamento abusivo – parte II – Contos de fadas são irreais

Acredito com convicção em um conselho que sempre dei às minhas amigas e que sempre repeti comigo mesma: quando ficamos mais tristes do que felizes dentro de um relacionamento, quando temos mais momentos de choro do que de riso, quando as preocupações e brigas se sobressaem, quando não conseguimos evocar boas memórias a respeito daquela pessoa… é hora de repensar essa relação.

Estar se relacionando com alguém abusivo é permanecer vendado na maior parte do tempo, não notamos o quão diferente está nosso reflexo no espelho. Não reparamos em todas as pessoas que se foram, pessoas que nos amam e querem o melhor para nós, almas queridas que não entendem nossa decisão de continuar em algo que nos machuca.

A dor de amor, ou seja lá o nome que se pode dar para isso tudo que se sente dentro da gaiola da relação abusiva, é uma dor sutil que invade aos poucos e um dia toma conta de nós. Gritos, berros, ofensas e portas batendo. Isso não faz parte do amor, isso faz parte da dor. Ele não te ama mais porque te manda muitas mensagens perguntando com quem e onde está, isso é obsessão. Ele não te ama mais porque gosta de andar de mãos dadas com você o tempo todo, e não suporta a ideia de que você não siga essa regra, isso é sentimento de posse. Ele não te ama mais porque te liga muitas vezes depois de uma briga que ele provocou, e não te deixa dormir em paz pelo resto da noite, isso é vaidade. Ele não te ama mais porque se zanga se você não transar com ele, não significa que ele te deseja mais do que qualquer homem no mundo um dia poderá te desejar, isso é abuso.

Eu, como pássaro que descobri ser, borboleta em constante transformação, reconheço que vivi em uma gaiola bem pouco iluminada por muito tempo. Sinceramente, não consigo lembrar dos momentos felizes daquilo tudo, nem mesmo esforçando-me para encontrá-los. Tudo o que ficou, depois de ter superado o sentimento de afeto, foi um breu em meio a todas as memórias daquele tempo, um amor doído e frágil, pouco parecido com aquele versículo da Bíblia que fala tão lindamente do modo com que o amor se parece.

Mas se pode sim encontrar o amor verdadeiro, doce e cálido. O amor está por ai, para as mulheres que desejam encontrar um oceano pacífico para se deleitar, e não uma tempestade de areia. Fomos ensinadas a contemplar homens que nos destratam, “masculinos”, homens que “não possuem sentimentos”, buscá-los e ganhá-los é a nossa meta. No entanto, até hoje, pagamos o preço de toda essa romantização e das ilusões que nos contam desde a infância.

O que não nos ensinaram é que o primordial é encontrar-se no meio de tudo isso, descobrir pequenas fagulhas que acendem no seu peito, quando faz algo que você ama, uma felicidade que seja sua, rituais próprios de contemplação a ti. Adora-te no espelho, aceita-te, perdoa-te. Seja a tua melhor amiga nos dias ruins, esteja presente para ti mesma. Não te abandona a margem de um homem qualquer, não te abandona a margem de nada. Mesmo que ele te traga flores vermelhas, te leve em um restaurante caro, abra a porta do carro. Nada disso valida a tua existência, a única pessoa capaz se fazer isso por ti, está refletida no espelho.

Não te abandona. Te pega pela mão, te ensina e te apoia. Te ama. Ninguém te diz nada sobre isso, pois eu te digo, e de nada sei sobre a vida, mas disso eu sei. Não solta tua própria mão, te agarra com toda a força, antes de se jogar nas garras de um príncipe fajuto do livro de conto de fadas.

Com amor e carinho, Alice.

 

O Mundo de Alice | O espinho da Rosa, um alerta, um relato, uma história – Relação abusiva Parte I

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