De que valeria a vida sem a companhia daquele homem, que lia e entendia de tudo. Que elucidava qualquer assunto. Que ampliava qualquer pensamento. Agora estava enfermo. E a possibilidade de perdê-lo era uma evidência.
Sem aquela lucidez intelectual misturada com loucura seus dias, não seriam os mesmos. Mas a realidade é que tudo,que nasce um dia morre. Até ela, um dia morreria. É o jogo da vida. O que sempre ficará é a lembrança, a amizade, a cumplicidade, o companheirismo e a necessidade de um e do outro.
Imaginava seu desespero. E as copiosas lágrimas que desceriam do seu rosto quando ele partisse. A tristeza da solidão sem ele. Tinha 27 anos quando o conheceu. E agora, passados 40 anos de seu relacionamento o que ficou foi uma base sólida. Como um grandioso pilar de concreto e aço que nenhum “tornado” seria capaz de derrubar.
Se alegrava em viver mais um dia ao seu lado. Para discutir filosofia e arte. Para entender a vida de Epicuro, de Diógenes, de Pitágoras, de Rosseau e de tantos outros gênios da humanidade. Se ele partisse breve, seu café da manhã perderia o gosto. Pois ao acordar ele sempre relatava a ela,seus sonhos espirituais. Ele dizia viajar quando dormia.Não para outros Países. Mas para outras Galáxias. Sempre instigantes. Sempre fabulosas.
Seus relatos teriam um fim. Mas para agora, mais um dia. Mais estórias.Mais pensamentos. Que com ele, costumam chegar em profusão. Como profusão é o sistema cósmico no qual estamos inseridos. E onde, às vezes penetramos timidamente. Seu único desejo agora é pedir-lhe que fique mais um pouco, ao seu lado nesta vida. Embora sabendo que o desejo humano é controlado somente por Deus.
E que todos os destinos já estão traçados. Programados e longe de nossas decisões, interferências e querer. Em tudo entretanto, ficará o amor. Um amor tão grande quanto o Cosmos. Este que reúne, estrelas, planetas e segredos.E às vezes também, une um homem e uma mulher numa grande descoberta humana.