Se Valdir Bonatto (PSDB) fosse profilático como Bill de Blasio, prefeito de Nova York, o risco de uma nova onda da covid-19 seria bem menor no 2022 de Viamão.
Desde o dia 27 de dezembro todos os funcionários do setor público e privado na cidade mais populosa dos Estados Unidos são submetidos a uma vacinação obrigatória contra o coronavírus.
Viamão fechou o ano com números que mostram que não importa o que diga quem olha para baixo, para cima, para esquerda ou para a direita, as vacinas são a salvação para o colapso na saúde público como o vivido em março de 2021.
É a ‘ideologia da ciência’, como já mostrei em Covid: Como Viamão se prepara para Ômicron; Estudo mostra rapidez no contágio, virulência e escape imunológico da nova variante.
Os contaminados em Viamão diminuíram nos últimos dois meses. Mesmo assim, a média diária de casos, que até o dia 22 dezembro estava em 0,8, fechou o mês em 4 confirmações/dia. Apenas nas últimas 24 horas, a secretaria da Saúde do Estado notificou 39 novos casos na Velha Capital – média de 9,75/dia.
Façam as contas.
Felizmente, as mortes caíram na última semana de dezembro para 0,1 a cada 24h. Nos primeiros 20 dias seguia nos 0,5, ou uma vida perdida a cada dois dias, na mesma média registrada entre novembro e setembro. Para efeitos de comparação, Foram 7 mortes em novembro, 12 em outubro e 13 em setembro. Em março – pico da variante Delta – perdemos 194 vidas em Viamão.
Desde o início da série histórica dos indicadores da pandemia, Viamão registra 14.730 casos e 777 óbitos.
De uma população estimada em 256 mil habitantes, Viamão tem 369.791 doses aplicadas. São185.572 com a primeira dose, mas apenas 153.562 com a segunda dose e 24.958 com a dose reforço. São pelo menos 20 mil pessoas que poderiam estar com o esquema vacinal completo e não estão.
– Ainda assim, não é uma garantia. Se as variantes diferirem muito do vírus original para o qual as vacinas foram criadas, a vacina pode não proteger tão bem contra elas. Por isso é necessário vacinar uma porcentagem cada vez maior da população para atingir esse efeito de grupo. Pode haver bolsões de população não vacinada onde continuem acontecendo surtos. Não podemos baixar a guarda – alertou, ao El País, Christl Donnelly, epidemiologista da Universidade de Oxford.
Voltando à conexão Gravataí-NY, lá o prefeito terminou o mandato exigindo que nova-iorquinos maiores de 12 anos apresentem comprovante de que receberam três doses da vacina para poder entrar em lugares públicos como restaurantes e teatros, um ‘passaporte vacinal’ mais restritivo que o ‘para gaúcho ver’ do governador Eduardo Leite (PSDB), apenas para grandes eventos e aglomerações.
– Em Nova York decidimos lançar um ataque preventivo contra o coronavírus e fazer algo ousado para parar a propagação da covid e os riscos que representa para todos – disse De Blasio, em seu balanço de fim de ano.
Ao fim, decreto de Bonatto obrigando a vacinação não vai acontecer, sei. O prefeito, que não comprou a ideia do passaporte vacinal local, como tratei em Prefeito Bonatto, não ouça negacionistas: apresente o ’passaporte vacinal’ em Viamão; A vida não tem partido, tem gente influente em sua base de governo que confunde liberdade individual com cumplicidade com a tragédia de quase mil vidas perdidas pela covid.
Mas, apesar dos bons indicadores de Viamão, e do cansaço de todos nós com a covid, inegável é que a vacina é a salvação e é preciso vacinar e manter os cuidados; e talvez nem isso baste nesta pandemia perpétua.
Os EUA chegaram ao 1 milhão de infectados/dia – e, mesmo com movimentos ‘antivax’ mais fortes, com índices de vacinação apenas 5% abaixo dos gravataienses. Já o Brasil registrou 10 mil casos nas últimas 24h.
A média da primeira quinzena de dezembro era de 3 mil/dia.
Mesmo que viesse a ser questionada na Justiça, a vacinação obrigatória teria a boa argumentação de que, conforme o Supremo, prefeitos podem ser mais restritivos que governadores. Ou, no mínimo, seria um ‘factóide do bem’, que em meio à polêmica arrastaria mais gente aos postos de vacinação.
Vacina protege a vida e a economia.
Chamem ‘ditadura da vida’, se preferirem.