Se investigasse, o que a CPI da COVID-19 encontraria em Viamão:

Assistimos atônitos aos desmandos revelados na CPI que investiga a atuação do governo federal na pandemia de coronavírus. Mas é igualmente vergonhoso o comportamento dos senadores governistas. Eles navegam em águas fétidas que vão da passação de pano até o reforço de fakenews sobre medicamentos que não têm efeito no combate da COVID-19. Isso sem falar na negação da vacina.
Teve até ex-ministro que alegou diarreia para não depor. Sim, falo do homem da "logística", do cara que "esquece" a máscara antes de passear no shopping.

Sério, chega a dar náuseas, mas diante dos problemas "intestinais" do governo e de seus defensores, me sinto até no lucro.

Os depoimentos não vão trazer mais do que já sabemos. São "revival" dos 15 meses de absurdos e birras políticas que causaram quase meio milhão de mortes até aqui. Por isso aguardo com ansiedade a fase em que os parlamentares vão abrir a "caixa preta" dos valores que Pazuello gastou com "remédio para vermes" enquanto pessoas morriam por falta de oxigênio nos hospitais.

Quero saber quanto do meu e do seu dinheiro foi usado, a mando de Bolsonaro, com cloroquina em vez da aquisição de vacinas. Quero as assinaturas, os extratos bancários, as ordens de compra, os aúdios das reuniões ministeriais em que aqueles grisalhos e caucasianos senhores ricos debocharam do grau de instrução e da expectativa de vida da população no exato momento em que médicos declaravam mais alguns milhares de óbitos Brasil afora com a mesma causa mortis: "negligência dos engravatados do Planalto".

Mas se em vez de investigarem apenas as ações do governo federal, os parlamentares ampliassem para estados e municípios, criando a cortina de fumaça desejada por Bolsonaro, o que encontrariam?

Em Viamão, enfrentamos momentos tensos. De março do ano passado, quando o primeiro caso foi confirmado, até o dia de hoje, vivemos uma montanha-russa de versões e interesses. Por aqui, ora fechava (ou faziam de conta que) tudo, ora abria tudo; Num dia, a prioridade era a Saúde, no outro era o comércio.

Durante o primeiro ano desta turbulência pandêmica, a Velha Capital teve quatro prefeitos: Russinho (MDB), Evandro Rodrigues (DEM), Nadim Harfouche (PSL), e André Pacheco (PSD). No primeiro dia de 2021, assumiu Valdir Bonatto (PSDB). Partidos diferentes, cada um ao seu estilo e com suas convicções (ou falta de). Por pressões ou crenças pessoais, todos acertaram e erraram. A única certeza é a de que a balança que suportava economia e a preservação da vida nunca esteve equilibrada. Pendeu de um lado para outro conforme o vento político soprou.

Se a CPI da COVID-19 no Senado resolvesse fiscalizar a atuação do Poder Executivo em Viamão, o que descobriria? Sem dúvida, erros administrativos que nos renderam, até a tarde de ontem (5), 595 óbitos, mas também acertos.

Identificaria nos números locais um dos piores índices de testagem da população entre todas as cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre. Quem testa menos tem "menos" casos confirmados, o que explica em parte "apenas" 7.568 moradores infectados; Contudo, as contagem de vidas perdidas e de internações não deixam margem a dúvidas sobre a gravidade do quadro local.

Foi por isso que em dois momentos – um em 2020 e um em 2021 – recursos públicos foram empregados na ampliação de leitos. Primeiro foram dez vagas de UTI exclusivas para tratamento da COVID. Depois, ainda que ao custo do fechamento da única maternidade de Viamão, a capacidade de atendimento a pacientes de menor gravidade saltou 433% – os leitos clínicos aumentaram de 12 para 52.

Em compensação, jamais tivemos um hospital de campanha.

Depois da morte do prefeito Russinho em consequência da COVID-19, o debate sobre a seriedade da pandemia até ganhou corpo. Mas se esvaziou na medida em que a disputa pela cadeira vaga esquentava e o processo eleitoral se avizinhava. Não fosse a Justiça e os decretos do governo do Estado, o desastre visto após o Carnaval teria chegado bem antes.

Se olharmos o retrospecto local, vamos ver que houve até ensaios para a compra de vacinas. Hoje tal discurso jaz esquecido na prateleira das possibilidades.

A crise na Velha Capital também guarda uma particularidade com a patrocinada ao país por Bolsonaro. Por aqui, além de prefeitos interinos, tivemos secretários da Saúde provisórios, assim com ministros em Brasília. Dias antes de a pandemia estourar no município, a Operação Capital soou para Viamão como uma "Lava Jato".

Depois de Carlito Nicolait ser afastado pelo Ministério Público, a Saúde teve o primeiro interino. Na sequência, Ricardo Agliardi assumiu, porém durou apenas 27 dias no cargo. Foi substituído por Glazileu Aragonês, que também não conseguiu terminar o ano. Após um novo interino, a cereja desse bolo foi adicionada por Bonatto, que assumiu a Prefeitura e a própria Saúde. Inicialmente, seria por três meses, mas já é maio, e o tucano segue acumulando a função.

Entre os acertos, fechando esta avaliação, a gestão atual da Prefeitura aumentou a testagem, ampliou o atendimento aos pacientes, aplica a vacina enviada pelo Ministério da Saúde com relativa velocidade, endureceu regras e promoveu a fiscalização. Só peca, puxada pelo governo estadual, em afrouxar de uma hora para outra o distanciamento e em promover uma corrida desatinada à sala de aula.

As hospitalizações caíram, a bem da verdade, mas ainda merecem atenção. Estão internadas, aqui em Viamão, 15 pessoas. Mas temos outros 50 moradores da Velha Capital ocupando leitos em Porto Alegre.

Não, não acabou. Tratamento precoce, meme, textão ou fakenews… nada muda a realidade. Nenhum mantra, nem mesmo repetir "que todos os cuidados necessários estão sendo tomados", diminui o perigo. Não façamos como os senadores governistas da CPI da vergonha, sejamos coerentes ao que os números mostram: a pandemia segue entre nós.
Até as emas do Plantanto sabem.

 

Eis a verdade inconveniente em números:

 

7.568 casos desde 20 de março – 2.931 deles confirmados em 2021;

792 moradores de Viamão têm o vírus ativo, ou seja, permanecem em tratamento;

595 mortes – 354 delas ocorridas neste ano (59,50% do total). São 91 apenas em abril;

A média atual de mortes (primeiros cinco dias de maio) está em 1,2/dia. A média de 2021 está em 2,85/dia, enquanto a de 2020 foi de 1,03/dia;

O pico de mortes ocorreu em março deste ano, com 187 (média de 6,03/dia).

 

Óbitos por COVID-19 em 2020 – por mês de ocorrência e média diária:

 

MARÇO: 0

ABRIL: 0

MAIO: 5 mortes – (0,16/dia)

JUNHO: 10 – (0,33/dia)

JULHO: 64 – (2,06/dia)

AGOSTO: 51 – (1,65/dia)

SETEMBRO: 19 – (0,63/dia)

OUTUBRO: 34 – (1,09/dia)

NOVEMBRO: 22 – (0,73/dia)

DEZEMBRO: 36 – (1,16/dia)

 

TOTAL – 241 (corresponde a 40,50% do total de mortes)

 

Óbitos por COVID-19 em 2021 – por mês de ocorrência e média diária:

 

JANEIRO: 29 – (0,94/dia)

FEVEREIRO: 41 – (1,46/dia)

MARÇO: 187 – (6,03/dia)

Abril: 91 (3,03/dia)

Maio* 6 (1,2/dia)

*1º a 5 de maio

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